quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Eu não escreveria uma série sobre Dercy se ela não pudesse falar palavrão", diz Maria Adelaide Amaral

Fonte: UOL Noticias

Parece estranho ouvir alguém dizer que a irreverente Dercy Gonçalves era uma mulher moralista e conservadora, mas é o que garante a autora da série “Dercy de Verdade”, que estreia hoje na Globo, e da biografia da comediante, “Dercy de Cabo a Rabo”, Maria Adelaide Amaral. Em entrevista ao UOL – Televisão, Maria Adelaide contou um pouco dos 15 dias em que “praticamente morou” com a comediante para escrever o livro e afirmou que não escreveria uma série sobre ela se não pudesse ter palavrão. Leia mais abaixo:

UOL – Por que você diz que Dercy era moralista?

Maria Adelaide Amaral – Para mim isso também foi uma surpresa, mas ela tinha severos princípios morais. Ela criou a filha longe da vida artística porque não queria que ela passasse pelos mesmos problemas que passou. Ela fez a filha casar e casar virgem. Queria um marido para levar Decimar [a filha] ao altar e dizia para ela que ela tinha que ser mais direita que as outras porque era filha de Dercy Gonçalves.

UOL – Há um trecho no livro em que ela conta que, para ela, cantar era uma forma de chorar. Você alguma vez a viu chorando?

Maria Adelaide Amaral – Ela não chorava por fora, mas chorava por dentro. Dercy era uma pessoa muito triste, embora fosse uma pessoa naturalmente engraçada. Mas pessoas próximas à minha mãe – que ia escondida assistir aos espetáculos dela, já que, naquela época, o pessoal da alta sociedade não admitia que via suas peças – diziam que ela era uma pessoa muito triste. Eu passei oito horas por dia com ela fazendo as entrevistas durante 15 dias. Estava muito antenada e percebi que ela era triste, porque ela sofreu e foi muito humilhada.

UOL – E como era a rotina da Dercy?

Maria Adelaide Amaral – Era acordar maquiada. Com a maquiagem do dia anterior. Ela mesma diz no livro que tirava a maquiagem poucas vezes na semana. Aí ela ia para a cozinha. Cozinhava muito bem, mas tinha hábitos alimentares “hardcore”. Era feijoada de madrugada, rabada às 6h da manhã, linguiça de porco... Ela não tomava café da manhã como a gente, mas comia bastante. Tanto que teve um câncer de estômago. Não bebia e quando escrevi o livro tinha deixado de fumar fazia 20 anos. Só era viciada em jogo.

UOL – Você escreveu o livro em primeira pessoa, como se a Dercy estivesse falando com o leitor. Foi difícil de organizar o fluxo de consciência dela, já que a gente percebe que ela começa um assunto e termina em outro?

Maria Adelaide Amaral – Não foi muito difícil não. Desde o começo eu sabia que seria assim e dei uma ordem aos fatos. Mesmo assim, muitas vezes ela me contou o mesmo acontecimento de maneiras diferentes. Aí eu ligava para ela e perguntava qual era a versão verdadeira e ela dizia: “Você escolhe, porra!”

UOL – Você alguma vez se chocou com a maneira crua com que ela contava os fatos?

Maria Adelaide Amaral – Olha, eu dificilmente me choco com as coisas. Trabalhei nos anos 70 em várias redações. As coisas que me escandalizam estão mais no campo da ética do que da moral. Mas uma vez, quando me separei, ela ficou sabendo e me ligou. “Você separou do marido? Tá querendo dar, é?” Respondi para ela: “Dercy, eu sou uma senhora, você me respeite!” Ela ficou quieta... Jamais imaginei que ela fosse tão conservadora.

UOL – E como foi para aprovar o roteiro da minissérie junto à direção da Globo com os palavrões?

Maria Adelaide Amaral – Não tinha como não ter palavrão, né? Eu não teria escrito a minissérie do JK se não pudesse falar da amante dele e não escreveria uma série sobre Dercy sem colocar palavrão...

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