sexta-feira, 27 de abril de 2012

Manoel Carlos: "Meus personagens não sofrem com as minhas dores"

Novelista conversa com iG Gente e fala sobre a morte de seu filho, a nova minissérie para a Globo e as suas Helenas.

Fonte: IG Gente

Manoel Carlos, um dos mais consagrados novelistas do Brasil, completou 79 anos em março, 33 dos quais criando sucessos para o horário nobre da Globo. O público, que se acostumou a torcer para as suas recorrentes personagens chamadas Helena - a primeira foi criada em 1981, e outras sete a sucederam -, está prestes a conhecer a nona e última delas, já que Maneco, como é tratado pelos amigos, se prepara para escrever a trama em que a heroína será a derradeira representante da estirpe das Helenas.



O "senhor do destino" de tantos personagens decide na ficção quem ama quem, quem fica com quem, quem se dá bem e quem se dá mal. Na vida, muitas vezes é atropelado pelos fatos. No último mês de fevereiro, foi surpreendido pela notícia devastadora da morte repentina de seu filho mais velho, Manoel Carlos Jr., em decorrência de um ataque cardíaco. A tristeza com a morte do amigo e confidente foi imensa, mas Maneco garante que suas dores particulares não afetam seus textos.

Antes de se dedicar à próxima Helena, o autor volta ao ar com uma minissérie, "Vale Abraão", inspirada no livro de Agustina Bessa-Luís, que já rendeu um filme, dirigido pelo português Manoel de Oliveira em 1993. A produção ainda não está definida, e comentários de que Ana Paula Arósio poderia ser a protagonista foram descartados pela assessoria da atriz.



Manoel Carlos preferiu não comentar sobre o projeto, que pode estrear no segundo semestre de 2012 ou em 2013. Em conversa com iG Gente, falou sobre a última das Helenas, as Helenas do passado, o trabalho como novelista e a perda do filho.

iG: Quando acontece na sua vida um fato desolador como a morte de seu filho Maneco Jr., como você evita que seu texto fique triste também?
Manoel Carlos: Meus personagens não sofrem com as minhas dores, mas com as dores que eles mesmos carregam.




iG: Como lidar com as situações que te paralisam quando você está no meio de uma novela, como no caso da morte de Jardel Filho em "Sol de Verão"?

Manoel Carlos: A perda do Jardel foi a única que eu vivi, escrevendo uma novela. Dadas as circunstâncias – também únicas –, o choque foi grande e lidar com essas situações é sempre muito difícil. Não há como prever a reação. Só mesmo na hora que acontece.

iG: Miguel Falabella declarou que nas novelas dele não morre ninguém. Você é a favor de matar os seus personagens? Acha que a morte, como um fato da vida, deve ser um fato das novelas?

Manoel Carlos: Bem, cada autor tem seu estilo, seu modo de ver a vida e a realidade que o cerca. Nas minhas novelas há sempre nascimentos e mortes, da mesma maneira que casamentos e separações, tapas e beijos.


iG: Você já criou personagens em homenagem a alguém que já morreu?
Manoel Carlos: Não integralmente, mas nos meus personagens há muito de gente viva e gente morta. Me inspiro em todos eles, sem distinção. Mesmo porque não há o que inventar no ser humano.

iG: Que tipo de homenagem você faz em seus textos? Os nomes dos personagens, por exemplo, são de pessoas reais? E a Helena, foi inspirada em alguém real?

Manoel Carlos: Os nomes, na maioria, são de escolha aleatória. Helena, como já disse muitas vezes, não foi inspirado em ninguém. Gosto do nome, sempre gostei. Me pareceu sempre mais apropriado à personagem do que à pessoa real. Tanto isso é verdade que tenho duas filhas e a nenhuma delas dei o nome de Helena. (Maneco teve cinco filhos: Ricardo (morto em 1988) e Maneco Jr., do primeiro casamento, Maria Carolina, do segundo, e a atriz Júlia Almeida e Pedro, do atual, com a museóloga Bety).



iG: E a próxima Helena? Será de fato interpretada por Julia Lemmertz?
Manoel Carlos: Sim, será a Julia Lemmertz. Com essa Helena penso em encerrar um ciclo com o personagem que leva esse nome criado em 1981 para a Lilian Lemmertz, sua mãe. Resolvi encerrar porque acho que está na hora, só isso. É uma decisão que eu posso até rever e mudar, mas acredito que não farei isso.
iG: Gostaria que você falasse sobre a perspectiva de Julia encerrar o ciclo iniciado pela mãe, Lilian. Você pensou nisso quando convidou Julia?

Manoel Carlos:
Gosto muito da Júlia como pessoa e como atriz. Está numa idade maravilhosa, em que a atriz enfrenta grandes personagens e grandes desafios. Isso me agrada. Eu a convidei para o papel e ela aceitou, o que me deixou muito feliz.

Sempre gostei do nome Helena. Me parece mais apropriado à personagem do que à pessoa real. Tanto é que a nenhuma das minhas duas filhas dei esse nome"


iG: O que você acha da atual safra das novelas da TV?
Manoel Carlos: Acho que todas que estão no ar trilham um bom caminho e fazem sucesso. Eu não tenho muito tempo para assistir, já que estou de férias e aproveitando para viajar, ficar com a família em São Paulo, mas sei que o público vem prestigiando as novelas atuais.

iG: Qual é sua novela favorita entre as suas? E qual a sua Helena favorita?
Manoel Carlos: Gosto de todas as min has novelas, com preferências pontuais. Mas uma única, como a que eu mais goste, não, essa não tenho como escolher. Querer saber quem é minha Helena favorita é o mesmo como perguntar a uma mãe de qual filha gosta mais. De todas, claro.

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