João Emanuel Carneiro evita dizer que renovou o gênero com sua trama e aponta Adriana Esteves como a alma da novela.
Fonte: O Globo
RIO - Um altar para Adriana Esteves em sua casa. É o que promete, em
um tom aparentemente sério, João Emanuel Carneiro. Apontada pelo autor
como “a alma” de “Avenida Brasil”, a intérprete da vilã das 21h da Globo
sequer foi a primeira opção dele para o papel, um dos grandes destaques
da novela. “Graças a Deus foi ela”, revela, ao fazer um balanço da
trama de maior repercussão dos últimos anos no horário, que chega ao fim
nesta sexta-feira, com 179 capítulos. Mais jovem novelista do seleto
time que escreve para as 21h, João, de 42 anos, garante só ter tido
tempo para “escovar os dentes e dormir” nos últimos meses — ok, ele
conseguiu ir uma vez ao dentista desde a estreia do folhetim, em 26 de
março. A história da vingança de Nina (Débora Falabella), ambientada num
subúrbio um tanto idealizado, o fictício Divino, ocupou sua cabeça
praticamente em tempo integral. A seguir, o autor — que vibrou ao saber
que, assim como seus personagens ao fim de cada capítulo, também seria
“congelado” na capa desta edição da Revista da TV — confessa ser um
analfabeto digital e adianta alguns desfechos da trama, que tem
direção-geral de Amora Mautner e José Luiz Villamarim.
Você escreveu a novela que queria?
Tive
uma antena boa de sacar o momento do Brasil. A ascensão da nova classe
média que está dando uma cara diferente ao país. A novela é sobre a
classe C, mas não só para a classe C. São coisas diferentes.
“Avenida Brasil” é a sua melhor novela?
Eu
acho que sim. É a minha novela mais orgânica. Todos os personagens se
interligaram. Mas eu gosto muito de “A favorita”. Ali tinha uma ideia
muito louca, até mais ousada do que a desta.
Acredita que a sua novela renovou o gênero?
Não posso dizer que renovei senão vou me “achar” muito. Não tinha essa ambição. Só pensei em fazer um trabalho do meu jeito.
Você se preocupou em aliviar a trama central, que trata de uma vingança?
Consegui
lidar com material muito pesado, dramático. Mesmo assim tirei um lado
de humor, de crônica, que deu um colorido mais humorado ao folhetim. A
história é pesada, uma tragédia, mas mesmo assim até a Carminha e o
Tufão tiveram um humor. O elenco entendeu o texto. Se não, poderia ter
caído num dramalhão mexicano.
É difícil manter o interesse do público durante meses?
Foi
tudo feito à custa de muito esforço. É difícil. As novelas deveriam ter
diminuído de tamanho. Eu lutei para escrever uma novela um pouco menor,
com 179 capítulos.
Algumas pessoas falam “vou ver Carminha” em vez de dizer “Avenida Brasil”. Essa é a novela da Carminha?
Vou
sistematizar a Adriana Esteves e fazer um altar na minha casa para ela
(risos). Ela foi a alma dessa novela, é um animal da atuação. As caras
que ela faz... É muito carismática e humanizou essa vilã. E nem era a
minha primeira escolha para o papel. Mas, depois, fui eu quem a escolhi.
Graças a Deus.
A novela tem muitos personagens ambíguos. Suelen é uma que ganhou a simpatia do público apesar de não ter escrúpulos...
Ela
é a vagabunda mais querida do Brasil. É mesmo um paradoxo o caso da
Suelen. Ela é ambivalente, sem escrúpulos, a messalina errática. Por
isso, a fiz se envolver com o gay, para ela ganhar definitivamente a
simpatia do público.
Por que não deixou claro que o Roni era gay?
Não sei se ele sabe que é. Roni parece mais um enrustido. Mas no final você vai ver!
Roni poderá ficar com a Suelen e o Leandro? Mas o Leandro teria que se descobrir bissexual, não é?
Tem essa possibilidade de os três terminarem juntos no final. Mas ficará uma coisa subentendida.
Como avalia o trabalho da Débora Falabella?
Eu
não posso imaginar outra atriz neste papel, que é muito difícil. Nina
tinha que ser uma pessoa com o Max, outra com o Jorginho. Tinha que ser
vingativa e passar seu conflito.
Pensou em juntar a Nina e o Tufão em algum momento?
Tive
muita vontade de juntar os dois. Fiquei muito em dúvida. Mas o
personagem já é tão conturbado. Se fosse por esse lado, ela seria muito
torta. Seria um caminho sem volta.
Afinal, por que a Nina não armazenou as fotos do flagra do Max e da Carminha em um pen drive?
Eu
sou um analfabeto virtual. Tenho que mudar. Não sei comprar nada, nem
pagar conta, nem baixar música pela internet. Achava que era uma pessoa
normal, mas não sou (risos). Eu sou uma ave rara realmente. Na minha
próxima novela vou ter um hacker como personagem. Mas, apesar de tudo,
“Avenida Brasil” é uma ficção, e a ficção te compra de tal maneira que
você embarca.
A novela acontece em paralelo nas redes sociais. Você também acompanha a trama conectado à internet?
A
novela tem esse poder de juntar as pessoas em torno de um único
assunto. É a vocação do gênero. Quero passar a assistir às minhas
conectado à internet, mas acho um pouco perigoso. Fico com medo de ser
influenciado para o bem e para o mal. Mas na próxima pretendo fazer esse
exercício.
Por que a Nina não estava presente quando Carminha foi expulsa da mansão?
Afinal, a vingança é dela...Guardei o embate entre as duas para o fim. O desfecho da Carminha vai ser surpreendente.
O que podemos esperar nesta última semana?
O
último capítulo terá 70 minutos de duração a pedido da emissora.
Teremos o “quem matou?” do Max e muita coisa ainda vai acontecer.
Vai tirar férias agora?
Sim, mas nem viajar eu viajo. Estou cansado até para isso
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